Viver com quatro crianças dentro de casa faz a gente adquirir certos hábitos peculiares. Exemplos? Sair pulando em cima dos outros sem aviso, morder os irmãos com frequência assustadora (carinhosamente, óbvio...), ter uma paixão inexplicável por água em movimento (piscinas, praias, mangueiras de jardim, caixas d'água com gente dentro, o que tiver...), e assistir o mesmo filme várias vezes.
Logicamente, esse modo de vida nos leva também a assistir filmes considerados menos maduros.
E isso nos traz ao assunto da postagem!
Eu fui com minha irmã caçula assistir Toy Story 3. Esse filme tem um efeito particular em mim, pois eu fui da geração que assistiu assiduamente o primeiro Toy Story (várias, várias e várias vezes, volto a falar) e entrei no cinema morrendo de medo que um diretor maldito tivesse decidido mudar algumas coisas e destruir uma parte da minha infância!
Meu medo foi infundado... O filme foi ótimo. E, além de dar uma continuação bem legal para os dois primeiros, me fez lembrar de uma época mais simples.
Com o tempo a gente vai se esquecendo, mas ali, naquela cadeira de cinema, eu lembrei de um tempo em que tudo era fácil! E foi engraçado olhar para trás, pois eu descobri que muitas coisas que eu achava dificílimas eram extremamente estúpidas.
É claro, eu mesmo não viví muito. Nem me formei ainda, mas tenho preocupações muito difíceis, até nesse tempo de férias que estou tendo. É possível que eu envelheça mais e descubra que essas preocupações também são estúpidas... mas me preocupo em escrever sobre isso mais tarde.
O fato é que tudo era fácil: Meus pais eram invencíveis, minha casa era impenetrável, meus amigos e minha escola eram eternos, minhas tarefas eram fáceis e não existia maldade no mundo. Eu lembro de como nós (eu e minhas irmãs imediatamente mais novas) tínhamos o hábito de puxar papo com qualquer pessoa bizarra que esbarrasse por aí, pois não existia maldade no mundo.
Nós não nos locomovíamos, nos éramos levados de lá pra cá sem a menor preocupação (Ah, é, o carro também era a prova de roubos!). O relógio não existia, se tínhamos um compromisso éramos prontamente alertados e devidamente transportados, de novo.
O tempo não passava. Eu lembro que os anos pareciam muito mais longos e que o Natal sempre demorava mais pra chegar. Não havia luto, nem lágrimas... NEM PROVAS DE VESTIBULAR!!! Ah, e só existia português no mundo!
A preocupações maiores eram: como vou me divertir? Como vou lidar com meus brinquedos? Como vou alimentar o peixe?!
Agora é difícil recordar. Da inocência. Da tranquilidade...
É...
Eu me lembro de quando descobri que meu pai não era perfeito. Lembro de quando eu comecei a pegar de dois a três ônibus sozinho. Lembro da primeira vez que minha irmãzinha chegou chorando em casa , dizendo que tinha sido assaltada. Lembro dó ódio que eu senti do assaltante e da sensação de que eu deveria te-la protegido. Lembro bem dá minha primeira nota da UERJ. Lembro de sofrer por ter ficado com B por duas questões.
É claro, eu também lembro da sensação de liberdade. Da primeira menina que eu beijei. De ter meu próprio dinheiro. De descobrir que todo mundo, incluíndo meus pais, é humano e pode errar (o que, acredite ou não, é uma informação muito libertadora).
Mas o importante é: a maior parte do menino se foi...
Eu hoje ando na rua olhando pros lados. Eu hoje passo a maior parte do tempo pensando em coisas que vão acontecer daqui a cinco, seis anos... E sei que os meus problemas ainda são insignificantes, comparados aos que estão por vir...
Eu ainda brinco com meus irmãos menores. Ainda assisto filmes diversas vezes. E ainda imito animais quando subo as escadas de casa. Mas agora, quem segura no colo sou eu. Quem parece invencível pra eles sou eu.
Eu acabo descobrindo que cada tempo tem sua graça e seu quinhão de sofrimento. Mas agradeço à PIXAR animation por me dar um pequeno espasmo de um tempo que não vai voltar. E por me lembrar de aproveitar ao máximo as belezas do tempo que vivo hoje. Para que um dia eu tenha a oportunidade de escrever sobre ele com a mesma paixão que escrevo agora sobre o menino que se foi...
Carpe diem!
Na estrada da vida não tem retorno. (frase de pára-choque de caminhão)
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